Existe sempre alguma loucura no amor. Mas há também sempre alguma razão na loucura. Friedrich Nietzsche
Este é o segundo jogo que joguei dentro do universo dos que considero injustamente denominados Walking Simulators, o primeiro foi Gone Home.
Um jogo, será para algumas pessoas, apenas um meio de destreza onde os nossos reflexos são postos à prova. Mas o mercado evolui. Muitos dos jovens que acompanharam a evolução desta indústria são hoje adultos e, como tudo na vida, os gostos e as necessidades mudaram. Não deixaram de gostar de pôr a sua destreza em cheque ou de se divertir apenas pela mais pura diversão, mas começaram a querer mais, jogos mais adultos com temas diversificados que nos transportem para outros perspetivas do que é ser gamer.
Os chamados Walking Simulators são jogos que reduzem a destreza ao mínimo e se centram essencialmente na componente emocional. É nesta base que The Town of Light será avaliado, como um jogo muito específico que pretende oferecer aos jogadores qualquer coisa de completamente diferente face ao que estamos habituados.
Um jogo, será para algumas pessoas, apenas um meio de destreza onde os nossos reflexos são postos à prova. Mas o mercado evolui. Muitos dos jovens que acompanharam a evolução desta indústria são hoje adultos e, como tudo na vida, os gostos e as necessidades mudaram. Não deixaram de gostar de pôr a sua destreza em cheque ou de se divertir apenas pela mais pura diversão, mas começaram a querer mais, jogos mais adultos com temas diversificados que nos transportem para outros perspetivas do que é ser gamer.
Os chamados Walking Simulators são jogos que reduzem a destreza ao mínimo e se centram essencialmente na componente emocional. É nesta base que The Town of Light será avaliado, como um jogo muito específico que pretende oferecer aos jogadores qualquer coisa de completamente diferente face ao que estamos habituados.
A história é tão simples quanto isto: Renée, uma mulher com um histórico médico de doenças mentais, regressa ao local onde esteve internada, procurando compreender o seu passado e com isto entender a sua própria existência. O local em questão é um hospital psiquiátrico sitiado em Volterra, em Itália.
O jogo coloca-nos como uma voz no interior da cabeça da protagonista e a nossa função acaba por ser, essencialmente, acompanhá-la na exploração do hospital à medida que flashbacks nos mostram o que lá aconteceu.
O jogo coloca-nos como uma voz no interior da cabeça da protagonista e a nossa função acaba por ser, essencialmente, acompanhá-la na exploração do hospital à medida que flashbacks nos mostram o que lá aconteceu.
No princípio do século XX, Renée, uma jovem de apenas 16 anos, após um conjunto de situações de descontrolo emocional, é levada para o Hospital Psiquiátrico de Volterra. Esta é uma história ficcional que é mais real do que realmente devia ser. O hospital em questão chama-se Ospedale Psichiatrico di Volterra e é um lugar real. A história de Renée pode não ser verdadeira mas é baseada em relatos de situações que realmente aconteceram. O próprio hospital é retratado com uma precisão asfixiante e, para tal, basta procurar imagens do mesmo na internet.
The Town of Light é um jogo na primeira pessoa. O objetivo é exclusivamente o de exploração de um hospital psiquiátrico em alto estado de degradação. No processo de exploração do mesmo iremos encontrar documentos que nos explicam o passado de Renée e aquilo que por tudo ela passou. Para além dos documentos, determinadas ações desbloqueiam flashbacks visualmente arrebatadores. Este é o principio, o meio e o fim do jogo. Não há meio termo em The Town of Light, os puzzles são mínimos, não há sustos nem monstros a perseguir-nos, apenas a exploração do passado de Renée.
The Town of Light é um jogo na primeira pessoa. O objetivo é exclusivamente o de exploração de um hospital psiquiátrico em alto estado de degradação. No processo de exploração do mesmo iremos encontrar documentos que nos explicam o passado de Renée e aquilo que por tudo ela passou. Para além dos documentos, determinadas ações desbloqueiam flashbacks visualmente arrebatadores. Este é o principio, o meio e o fim do jogo. Não há meio termo em The Town of Light, os puzzles são mínimos, não há sustos nem monstros a perseguir-nos, apenas a exploração do passado de Renée.
Sou uma pessoa facilmente intimidade com jogos que se baseiam em terror psicológico, sendo-me muitas vezes impossível jogá-los. Quando iniciei The Town of Light pensei que seria um jogo desse estilo, com sustos constantes, com monstros, jogo de sombras, suspense. Não, nada disso. The Town of Light é apenas exploração sem pressão.
The Town of Light não procura assustar com jogos de imagem e luz, prefere que seja a perceção da realidade a tornar-se no tormento. Não me lembro de um único momento de "prazer" a jogar este jogo. Ironicamente, desde que o comecei a jogar só pude parar quando o acabei. Não vou mentir, acompanhar a jornada de Renée não é fácil, especialmente porque sabemos que o que está a acontecer com ela aconteceu com outros na realidade. Se juntarmos a isto o facto de que as nossas ações apenas levam a ténues variações no percurso a seguir, percebe-se o porquê de uma frustração sem limites face ao que vemos. Neste jogo o verdadeiro horror é a compreensão da realidade.
The Town of Light não procura assustar com jogos de imagem e luz, prefere que seja a perceção da realidade a tornar-se no tormento. Não me lembro de um único momento de "prazer" a jogar este jogo. Ironicamente, desde que o comecei a jogar só pude parar quando o acabei. Não vou mentir, acompanhar a jornada de Renée não é fácil, especialmente porque sabemos que o que está a acontecer com ela aconteceu com outros na realidade. Se juntarmos a isto o facto de que as nossas ações apenas levam a ténues variações no percurso a seguir, percebe-se o porquê de uma frustração sem limites face ao que vemos. Neste jogo o verdadeiro horror é a compreensão da realidade.
É um jogo extremamente lento. Quem quiser correr livremente vai sentir-se preso a uma velocidade de cruzeiro que, se por um lado se compreende, por outro apenas nos consegue frustrar.
Os gráficos são de uma qualidade considerável, especialmente tendo em conta que estamos a falar de um novo estúdio com um orçamento limitado. O ambiente está mais do que impressionante por si só. Mas, se começarmos a estudar o local na realidade, a sensação de imersão torna-se tenebrosa. A forma como o hospital é retratado é tão real que comprime cada divisão num processo de dor imaginável, mesmo não sendo parte de nós. As pessoas que lá trabalharam são retratadas com o máximo rigor possível: boas pessoas, más pessoas, trabalhadores à beira do esgotamento ou sem recursos para resolver os problemas.
A narrativa está um pouco confusa devido a alguns erros de tradução, mas tem uma grande capacidade de proporcionar imersão. É quase impossível não sentir desespero por sermos apenas meros espetadores.
O desempenho vocal é extremamente limitado, sendo quase todo centrado em Renée. As restrições de orçamento também devem ter obrigado a alguns cortes neste departamento.
O facto de não haver nada sobrenatural torna a narrativa mais absorvente e real, o que não só fornece mais poder ao que está a ser contado, como também fornece uma seriedade que não me lembro de ver noutro jogo.
Os gráficos são de uma qualidade considerável, especialmente tendo em conta que estamos a falar de um novo estúdio com um orçamento limitado. O ambiente está mais do que impressionante por si só. Mas, se começarmos a estudar o local na realidade, a sensação de imersão torna-se tenebrosa. A forma como o hospital é retratado é tão real que comprime cada divisão num processo de dor imaginável, mesmo não sendo parte de nós. As pessoas que lá trabalharam são retratadas com o máximo rigor possível: boas pessoas, más pessoas, trabalhadores à beira do esgotamento ou sem recursos para resolver os problemas.
A narrativa está um pouco confusa devido a alguns erros de tradução, mas tem uma grande capacidade de proporcionar imersão. É quase impossível não sentir desespero por sermos apenas meros espetadores.
O desempenho vocal é extremamente limitado, sendo quase todo centrado em Renée. As restrições de orçamento também devem ter obrigado a alguns cortes neste departamento.
O facto de não haver nada sobrenatural torna a narrativa mais absorvente e real, o que não só fornece mais poder ao que está a ser contado, como também fornece uma seriedade que não me lembro de ver noutro jogo.
Avaliação Final
80/100
The Town of Light não é uma experiência para todas as pessoas. Os seus criadores (LKA) procuraram mostrar a realidade sob um manto de loucura, desespero e solidão. Descobrir o passado de Renée é uma das viagens mais angustiantes que já vivi. Sem sustos, sem monstros, mas com o terror da realidade a cada passo, a cada esquina, a cada memória.
Não há meio termo com este jogo, ou se gosta ou não. È um jogo essencialmente centrado na exploração de um único local. Tem a duração de aproximadamente três horas e meia o que é mais do que suficiente para que a nossa alma seja exposta a realidades que muitas vezes preferimos ignorar.
Apesar de não ser um jogo perfeito, com uma jogabilidade muito básica e objectivamente feito para um nicho do mercado, não posso deixar de o recomendar. Já o terminei faz dois dias e enquanto preparava esta análise dei por mim a estudar Volterra, a saber mais sobre o hospital e a perceber certas técnicas que se utilizavam antigamente para controlo dos doentes com problemas mentais.
Um jogo será sempre uma experiência para proporcionar diversão, mas não podemos deixar de valorizar quando o mesmo se torna uma ferramenta moral de percepção da realidade.
Prós
Contras
P.S.: Para quem quiser um pouco mais de informação: https://www.rockpapershotgun.com/2016/01/29/the-town-of-light-preview-horror-history/
Por: Blindsnake
80/100
The Town of Light não é uma experiência para todas as pessoas. Os seus criadores (LKA) procuraram mostrar a realidade sob um manto de loucura, desespero e solidão. Descobrir o passado de Renée é uma das viagens mais angustiantes que já vivi. Sem sustos, sem monstros, mas com o terror da realidade a cada passo, a cada esquina, a cada memória.
Não há meio termo com este jogo, ou se gosta ou não. È um jogo essencialmente centrado na exploração de um único local. Tem a duração de aproximadamente três horas e meia o que é mais do que suficiente para que a nossa alma seja exposta a realidades que muitas vezes preferimos ignorar.
Apesar de não ser um jogo perfeito, com uma jogabilidade muito básica e objectivamente feito para um nicho do mercado, não posso deixar de o recomendar. Já o terminei faz dois dias e enquanto preparava esta análise dei por mim a estudar Volterra, a saber mais sobre o hospital e a perceber certas técnicas que se utilizavam antigamente para controlo dos doentes com problemas mentais.
Um jogo será sempre uma experiência para proporcionar diversão, mas não podemos deixar de valorizar quando o mesmo se torna uma ferramenta moral de percepção da realidade.
Prós
- Visualmente deslumbrante
- Baseado em factos e localizações reais
- Ambiente e estilo de arte
- Narrativa meio confusa mas totalmente imersiva
Contras
- Jogabilidade rudimentar
- Ritmo
- Erros de tradução
P.S.: Para quem quiser um pouco mais de informação: https://www.rockpapershotgun.com/2016/01/29/the-town-of-light-preview-horror-history/
Por: Blindsnake