Do Japão chega-nos um clássico da indústria e um dos melhores jogos de sempre.
Estávamos em 1998, a Konami lançava mais um Metal Gear e, mais uma vez, o produtor Hideo Kojima e a sua equipa traziam uma espécie de género próprio cunhado — tactical espionage action. Desde o início do jogo que se consegue notar que a qualidade deste está intimamente ligada à sua realização, isto devido aos aspetos técnicos conseguidos na perfeição. Além de produtor, o japonês é também o diretor, escritor e designer. Este ainda realiza outras tarefas aqui e ali, como se pode confirmar pelos créditos do jogo, onde o seu nome é representado sobremaneira. Kojima é, sem dúvida, a mente brilhante por detrás do projeto e sem ele é mais que certo que Metal Gear Solid não seria o que é — um grande jogo.
Uma missão arriscada
Começando por falar da narrativa, é desde cedo verificável que o guião foi escrito muito objetivamente e que se pretendia uma introdução sólida e bem definida que servisse de base para uma trama recheada de emoção, introspeção, moral militar e, no fundo, crítica social. As reviravoltas na história são comuns, muito bem planeadas e pouco expetáveis, definindo a progressão no jogo. O título da Kojima Productions leva ainda uma mensagem para os jogadores que vai além dos problemas nucleares no planeta (tanto no jogo como na realidade), mas esta só floresce no final do jogo. Relativamente ao argumento, mais uma vez, a escrita é de grande qualidade, tornando todos os diálogos minimamente relevantes, bem construídos e, sobretudo, capazes de desenvolver e explorar as personagens. Uma boa orquestração de tudo isto resulta numa narrativa arejada e relevante que é tanto imersiva como inteligente. Diga-se ainda que a quarta parede é quebrada várias vezes, mas fazendo parte do cariz do jogo é uma técnica bem-vinda.
Estreia no 3D
Debruçando-me agora sobre o grafismo, a franquia utiliza gráficos tridimensionais pela primeira vez e fá-lo com sucesso. Boas animações, especialmente in-game, texturas com qualidade, serrilhamento bem cuidado e efeitos ambientais capazes são o que mais salta à vista. Apesar de estar tudo em ordem, alguns problemas esporádicos assolam as cinemáticas, como alguma desfocagem e tremores em planos aproximados antes da movimentação, mas nada de grave. A física comporta-se bem, nada a registar.
Espionagem, ação e furtividade
A jogabilidade sobressai principalmente pela sua enorme variedade. Metal Gear Solid nunca se torna repetitivo, há sempre algo novo para fazer e, volta e meia, uma "kojimice" para contemplar. A nível de furtividade, a jogabilidade cumpre o seu papel na perfeição, a grande variedade de itens dá azo a um planeamento tático das ações e os combates com bosses (que estão, elogiando uma vez mais o guião, muito bem intercalados) são excecionais, um verdadeiro mimo. Já na ação mais direta, os vários tipos de armamento conferem um poder faseado ao protagonista e fazem que circulemos por ele sem deixar nada em esquecimento; os equipamentos são úteis, cada um à sua maneira; os controlos são responsivos e têm um bom mapeamento por parâmetro-padrão; e o uso do Codec (aparelho de comunicação) para contactar as personagens secundárias (apoio da base) é natural, para não falar da monumental dinâmica conversacional que existe ao utilizar o aparelho, pelo que temos imensas conversas disponíveis e histórias para ouvir (e até a opção de gravação do jogo). Os poucos problemas que posso apontar são mesmo a pouca precisão nos tiroteios, a navegação no menu de (muitos) itens, o backtracking enfadonho (mas contextualizado) e a possível dificuldade em disparar ao mesmo tempo que se corre.
Alasca — gelo e terrorismo
Quanto aos cenários, estes consistem principalmente em interiores, são detalhados o suficiente e nunca deixam o jogador sentir-se fechado, proporcionando espaços abertos de vez em quando e secções no exterior. O design de níveis é de uma qualidade imensa e conjuga-se com a jogabilidade exemplarmente. Durante as cinemáticas vamo-nos deparar com um pormenor que acaba por ser muito importante: os planos de câmara absolutamente fantásticos; até hoje, é o melhor que alguma vez vi feito neste campo. Kojima é o responsável, uma vez mais. Na jogabilidade, também é possível ativar a visão em primeira pessoa e quando nos abrigamos a câmara passa para uma ângulo mais próximo que nos permite ver em frente. Outro aspeto do jogo que brilha é a inteligência artificial, que nunca falha e cumpre a sua função muito bem, essencial neste género de jogos. Os itens estão bem espalhados pelo cenário e, por vezes, há que parar para pensar se vale a pena correr o risco de os apanhar, ainda para mais, alguns estão bem escondidos.
Entre corvos e alarmes
A banda sonora não é nada de genial, mas é boa e consegue refletir o estado do jogador e influenciar o ambiente muito bem, particularmente nas lutas com bosses. Colocadas em momentos chave, certas composições encaixam que nem uma luva nas emoções decorrentes e acrescentam um toque único às longas cinemáticas, embora, uma vez ou outra, falhem por serem implantadas abruptamente e sem escala. Não há palavras para a música dos créditos finais, é a junção de tudo o que absorvemos durante o jogo e a sua libertação suave como que de um suspiro longo se tratasse. As prestações vocais estão muito bem e contribuem imenso para o jogo a nível de transmissão de argumento. A sonoplastia e sons de ações estão também bem e estes últimos não são irritantes e ajudam na jogabilidade, nunca exagerando. Realce para o som dos corvos.
Fora do jogo
Existe um menu de extras bem completo e com sequências de vídeo bastante esclarecedoras. Quem não jogou os jogos anteriores terá uma sinopse bem feita para ler e quando começam uma nova sessão de jogo podem ler o log do que se passou anteriormente, o que é um detalhe delicioso. O jogo dura cerca de 11 horas a completar, sendo duração suficiente.
Conclusão
Depois de tudo o que já foi dito não é difícil chegar à conclusão de que Metal Gear Solid é um videojogo de excelência. Com Kojima como maestro, sai do Japão esta obra que merece destaque histórico, um grande jogo que tem tudo para impressionar. Após o final do jogo só faltou aparecer grafada a mensagem que já nos tinha chegado através da experiência de jogo: "De Kojima, com amor".
NOTA FINAL: 95/100
Por: Elektrospektrus