Os videojogos são na atualidade uma forma de arte que se baseia num conjunto variável de interligações técnicas e artísticas. É inegável a evolução ao longo dos anos até ao momento atual, especialmente a nível gráfico, mas também a nível de jogabilidade, história, som, ambiente, etc. Os gráficos podem inclusive ser considerados como um dos primeiros fatores diferenciadores da evolução técnica ou geracional, mas, curiosamente ou talvez não, este não é o fator de maior debate entre os jogadores.
Qual é então o ponto de crispação preferencial dos jogadores quando debatem a importância dos diferentes fatores técnicos dos jogos? Não há como enganar, de um lado temos os que defendem a jogabilidade como o fator mais importante num jogo e do outro temos os gamers que consideram que a história merece ocupar esse lugar.
Há uma condição histórica que nunca pode ser esquecida, os jogos nasceram de uma base essencial, foram feitos para permitir ao utilizador a possibilidade de jogar, de controlar uma determinada situação (personagem, objeto) e moldar as suas ações baseadas na nossa habilidade. A jogabilidade é a base de um jogo, ou como se costuma dizer as suas fundações. E aqui chegamos ao primeiro ponto diferenciador entre jogabilidade e história. Um jogo sem jogabilidade é uma impossibilidade, um jogo sem história não só é possível como pode ser até um excelente jogo. Só por este ponto poderíamos pensar que uma guerra entre os dois se daria por finalizada perante semelhante diferença, mas a verdade é que a evolução dos jogos e dos gamers obriga a uma avaliação mais cuidada e menos superficial.
Olhemos primeiro para a jogabilidade. Podemos ver a jogabilidade como as regras que o jogo vai impor. Todas as interações do jogador, todos os seus movimentos, os seus desafios e as suas ações vão estar restritas a um conjunto específico de mecânicas previamente estabelecidas.
Por seu lado, a história tem um carácter mais especifico porque se pode considerar como o fio condutor do processo de imersão. A história, tal como em filmes ou livros, é o processo imaginativo que dá lógica às nossas ações, que estabelece o ponto mais intenso do processo emocional.
Até ao momento a escolha continua a parecer simples, a jogabilidade é numa primeira fase ponto essencial em qualquer jogo e como tal, terá de obrigatoriamente estar no topo da hierarquia. Mas se assim é, porque se vê cada vez mais o debate entre história e jogabilidade? Não seria este debate ser considerado absurdo com os pontos previamente referidos em cima da mesa? Nada é simples quando a nossa reação intelectual exige mais que simplesmente uma reação primitiva/emocional básica.
Para perceber a influência da história em todo o processo narrativo de um jogo temos primeiro de olhar para o mercado dos jogos desde os seus inícios até à atualidade.
Tal como referido, os jogos nasceram de uma base, a jogabilidade. Evoluir esta componente técnica, juntamente com a qualidade gráfica, foi por muitos anos o principal fator de atenção da indústria. Mas como a evolução destes pontos de certa forma estagnava por alguns períodos começou-se a tentar aumentar os processos de imersão dos jogadores, e nada melhor do que inseri-los num contexto de lógica evolutiva, em que o propósito das ações físicas ganhavam um diferente valor adicional. Foi nesta conjuntura que história começou a ganhar um relevo excecional no contexto narrativo.
Que não se interprete mal o que quero dizer: os jogos de desporto, de guerra (com forte componente online) e de plataformas (em certos casos), entre outros, não irão acabar, e, efetivamente, a sua história é no geral irrelevante para o resultado final, mas ao longo do tempo os jogos foram evoluindo, só a jogabilidade não chegava, isto porque o público alvo também se foi alterando e cada vez mais os jovens jogadores se transformaram em adultos, o mercado inicial (centrado num segmento específico) alterou-se completamente e ficou global, abrangendo todas as idades e todas as culturas. Como é óbvio uma experiência aos cinco anos de idade é diferente da mesma experiência aos quinze. O mesmo se pode aplicar dos quinze aos trinta. Este padrão pode ser repetido até a maturidade atingir uma certa constância.
Atualmente há jogos centrados essencialmente na história. Um grande exemplo na atualidade é a Telltale, mas já muitos concorrentes diretos têm aparecido e mesmo outros já tinham usado as mesmas técnicas no passado. Emoções acima de destreza física.
Poderíamos continuar indefinidamente a referir as diferenças entre os dois, mas isso alargaria em demasia este artigo de opinião. Deste modo, passo diretamente para a minha opinião pessoal sobre o assunto relatando uma das minhas primeiras experiências sobre este debate:
“Como jogador já vivi muitas experiências. Adorei os jogos da Nintendo, com o Super Mario como referência, adorei os jogos da Sega com Mortal Kombat 3 como estrela maior, mas depois algo foi mudando e com o tempo, precisava de mais. Foi então que tive uma das sensações mais intensas da minha vida como jogador. Comprei uma PS1, a loja era fraquinha e só tinha quatro jogos à disposição. Fiquei na dúvida entre dois deles, uma era Alien, o outro era Metal Gear Solid. A escolha foi extremamente simples, como fã de Alien e de jogos de ação nunca poderia escolher outro jogo.
Durante semanas joguei Alien e, apesar de não ser nada extraordinário diverti-me a dar cabo dos inimigos. Um primo meu fez o mesmo percurso que eu, infelizmente para ele, foi a seguir a mim fazer a compra e naquele momento apenas tinha à disposição as sobras, mais concretamente Metal Gear Solid. Após uma semana, pediu-me emprestado o Alien porque já se tinha aborrecido do outro. O dinheiro não nascia nas árvores, por isso, era complicado estar a emprestar o único jogo que tinha, mas admito que tal como ele já não me apetecia jogar. A muito custo emprestei-lhe o Alien e fiquei com o dele para não deixar a PS1 a apanhar pó.
Começa o jogo e vejo um estilo fora do que estava habituado, que diabo, devia ter estado quieto… mas como não havia mais nada lá continuei. Após nove horas cheguei ao final do jogo. Mal respirava, todo o meu corpo vibrava com o percurso épico de Snake. Melhor do que isso, eu era Snake e aquele era o meu mundo. Poderia-se dizer que Metal Gear Solid foi uma melhor experiência que Alien, mas a verdade vai muito além disso. Um fez me viver, ter emoções, fazer parte de algo, o outro fez-me disparar contra coisas… A nível de jogabilidade ainda hoje não sei qual era melhor, a nível de história não há comparação”.
São estas pequenas experiências que transformam a realidade que nos rodeia. Após Metal Gear Solid nunca poderia retornar a uma mera experiência baseada exclusivamente na jogabilidade. Não que essas experiências não sejam boas, simplesmente, para mim, são efémeras.
Voltando ao tema em questão, qual a coisa mais importante? Jogabilidade ou história?
Eu acredito que a conjugação destes dois fatores é o principal objectivo a atingir. Uma boa jogabilidade para facilitar as ações dos jogadores e uma boa história para dar objetivo às nossas ações e aumentar o processo de imersão. Depois juntar os restantes ingredientes de forma a fornecer uma experiência única aos jogadores.
Não o vou negar, entre uma boa história e uma boa jogabilidade escolherei sempre a história. Não porque a ache mais importante, mas sim porque a acho muito mais gratificante.
O primeiro Mass Effect teve uma jogabilidade atroz, mas é um dos meus jogos top 10, Super Mario é um jogo porta-estandartes da Nintendo com uma jogabilidade fenomenal, a mim não me diz nada na atualidade.
No fundo, e como em tudo, o que diz respeito às escolhas dos jogadores, tudo é uma questão de gostos e expetativas.
Deixo a minha visão final dos dois “combatentes”:
Se a jogabilidade é o corpo... a história é a alma e o coração.
P.S.: Uma chamada de atenção para a tendência atual dos jogos mobile, onde a jogabilidade volta a ser rainha. Obviamente, o artigo tem como base a vertente mais tradicional de consolas e PC.
Qual é então o ponto de crispação preferencial dos jogadores quando debatem a importância dos diferentes fatores técnicos dos jogos? Não há como enganar, de um lado temos os que defendem a jogabilidade como o fator mais importante num jogo e do outro temos os gamers que consideram que a história merece ocupar esse lugar.
Há uma condição histórica que nunca pode ser esquecida, os jogos nasceram de uma base essencial, foram feitos para permitir ao utilizador a possibilidade de jogar, de controlar uma determinada situação (personagem, objeto) e moldar as suas ações baseadas na nossa habilidade. A jogabilidade é a base de um jogo, ou como se costuma dizer as suas fundações. E aqui chegamos ao primeiro ponto diferenciador entre jogabilidade e história. Um jogo sem jogabilidade é uma impossibilidade, um jogo sem história não só é possível como pode ser até um excelente jogo. Só por este ponto poderíamos pensar que uma guerra entre os dois se daria por finalizada perante semelhante diferença, mas a verdade é que a evolução dos jogos e dos gamers obriga a uma avaliação mais cuidada e menos superficial.
Olhemos primeiro para a jogabilidade. Podemos ver a jogabilidade como as regras que o jogo vai impor. Todas as interações do jogador, todos os seus movimentos, os seus desafios e as suas ações vão estar restritas a um conjunto específico de mecânicas previamente estabelecidas.
Por seu lado, a história tem um carácter mais especifico porque se pode considerar como o fio condutor do processo de imersão. A história, tal como em filmes ou livros, é o processo imaginativo que dá lógica às nossas ações, que estabelece o ponto mais intenso do processo emocional.
Até ao momento a escolha continua a parecer simples, a jogabilidade é numa primeira fase ponto essencial em qualquer jogo e como tal, terá de obrigatoriamente estar no topo da hierarquia. Mas se assim é, porque se vê cada vez mais o debate entre história e jogabilidade? Não seria este debate ser considerado absurdo com os pontos previamente referidos em cima da mesa? Nada é simples quando a nossa reação intelectual exige mais que simplesmente uma reação primitiva/emocional básica.
Para perceber a influência da história em todo o processo narrativo de um jogo temos primeiro de olhar para o mercado dos jogos desde os seus inícios até à atualidade.
Tal como referido, os jogos nasceram de uma base, a jogabilidade. Evoluir esta componente técnica, juntamente com a qualidade gráfica, foi por muitos anos o principal fator de atenção da indústria. Mas como a evolução destes pontos de certa forma estagnava por alguns períodos começou-se a tentar aumentar os processos de imersão dos jogadores, e nada melhor do que inseri-los num contexto de lógica evolutiva, em que o propósito das ações físicas ganhavam um diferente valor adicional. Foi nesta conjuntura que história começou a ganhar um relevo excecional no contexto narrativo.
Que não se interprete mal o que quero dizer: os jogos de desporto, de guerra (com forte componente online) e de plataformas (em certos casos), entre outros, não irão acabar, e, efetivamente, a sua história é no geral irrelevante para o resultado final, mas ao longo do tempo os jogos foram evoluindo, só a jogabilidade não chegava, isto porque o público alvo também se foi alterando e cada vez mais os jovens jogadores se transformaram em adultos, o mercado inicial (centrado num segmento específico) alterou-se completamente e ficou global, abrangendo todas as idades e todas as culturas. Como é óbvio uma experiência aos cinco anos de idade é diferente da mesma experiência aos quinze. O mesmo se pode aplicar dos quinze aos trinta. Este padrão pode ser repetido até a maturidade atingir uma certa constância.
Atualmente há jogos centrados essencialmente na história. Um grande exemplo na atualidade é a Telltale, mas já muitos concorrentes diretos têm aparecido e mesmo outros já tinham usado as mesmas técnicas no passado. Emoções acima de destreza física.
Poderíamos continuar indefinidamente a referir as diferenças entre os dois, mas isso alargaria em demasia este artigo de opinião. Deste modo, passo diretamente para a minha opinião pessoal sobre o assunto relatando uma das minhas primeiras experiências sobre este debate:
“Como jogador já vivi muitas experiências. Adorei os jogos da Nintendo, com o Super Mario como referência, adorei os jogos da Sega com Mortal Kombat 3 como estrela maior, mas depois algo foi mudando e com o tempo, precisava de mais. Foi então que tive uma das sensações mais intensas da minha vida como jogador. Comprei uma PS1, a loja era fraquinha e só tinha quatro jogos à disposição. Fiquei na dúvida entre dois deles, uma era Alien, o outro era Metal Gear Solid. A escolha foi extremamente simples, como fã de Alien e de jogos de ação nunca poderia escolher outro jogo.
Durante semanas joguei Alien e, apesar de não ser nada extraordinário diverti-me a dar cabo dos inimigos. Um primo meu fez o mesmo percurso que eu, infelizmente para ele, foi a seguir a mim fazer a compra e naquele momento apenas tinha à disposição as sobras, mais concretamente Metal Gear Solid. Após uma semana, pediu-me emprestado o Alien porque já se tinha aborrecido do outro. O dinheiro não nascia nas árvores, por isso, era complicado estar a emprestar o único jogo que tinha, mas admito que tal como ele já não me apetecia jogar. A muito custo emprestei-lhe o Alien e fiquei com o dele para não deixar a PS1 a apanhar pó.
Começa o jogo e vejo um estilo fora do que estava habituado, que diabo, devia ter estado quieto… mas como não havia mais nada lá continuei. Após nove horas cheguei ao final do jogo. Mal respirava, todo o meu corpo vibrava com o percurso épico de Snake. Melhor do que isso, eu era Snake e aquele era o meu mundo. Poderia-se dizer que Metal Gear Solid foi uma melhor experiência que Alien, mas a verdade vai muito além disso. Um fez me viver, ter emoções, fazer parte de algo, o outro fez-me disparar contra coisas… A nível de jogabilidade ainda hoje não sei qual era melhor, a nível de história não há comparação”.
São estas pequenas experiências que transformam a realidade que nos rodeia. Após Metal Gear Solid nunca poderia retornar a uma mera experiência baseada exclusivamente na jogabilidade. Não que essas experiências não sejam boas, simplesmente, para mim, são efémeras.
Voltando ao tema em questão, qual a coisa mais importante? Jogabilidade ou história?
Eu acredito que a conjugação destes dois fatores é o principal objectivo a atingir. Uma boa jogabilidade para facilitar as ações dos jogadores e uma boa história para dar objetivo às nossas ações e aumentar o processo de imersão. Depois juntar os restantes ingredientes de forma a fornecer uma experiência única aos jogadores.
Não o vou negar, entre uma boa história e uma boa jogabilidade escolherei sempre a história. Não porque a ache mais importante, mas sim porque a acho muito mais gratificante.
O primeiro Mass Effect teve uma jogabilidade atroz, mas é um dos meus jogos top 10, Super Mario é um jogo porta-estandartes da Nintendo com uma jogabilidade fenomenal, a mim não me diz nada na atualidade.
No fundo, e como em tudo, o que diz respeito às escolhas dos jogadores, tudo é uma questão de gostos e expetativas.
Deixo a minha visão final dos dois “combatentes”:
Se a jogabilidade é o corpo... a história é a alma e o coração.
P.S.: Uma chamada de atenção para a tendência atual dos jogos mobile, onde a jogabilidade volta a ser rainha. Obviamente, o artigo tem como base a vertente mais tradicional de consolas e PC.