Para começar, comecemos por nos perguntar o que é uma consola. Numa definição leiga e generalizada, é um computador com a função primária de processar e renderizar jogos, transmitindo essa informação através de um sinal de som e vídeo para um qualquer dispositivo que consiga processar esse sinal (uma televisão, um ecrã com colunas, etc.) e que é operada por meio de controladores externos, sejam eles comandos, joysticks, câmaras de deteção de movimento ou até ratos e teclados. Desde os seus primórdios, o único objectivo das consolas foi sempre renderizar um jogo e transmiti-lo, sem se esforçar por fazer muito mais. Só no virar do milénio é que consolas com outras funções para além da fundamental é que começaram a surgir. Esta componente multifunções afirmou-se, finalmente, na 7.ª geração de consolas. Plataformas como a Nintendo Wii, a Xbox 360 e a PlayStation 3 apresentavam uma interface, possuíam browsers, leitores de vídeo e música e uma estrutura social e multiplayer extremamente desenvolvido e enraizado nos próprios sistemas das consolas e que regiam a forma de que muitos jogos funcionavam. Desde amigos, troféus/achievements, servidores de todo o tipo e lojas virtuais de jogos, estas características fizeram as delícias dos jogadores.
Entretanto, o PC estava desolado. Num período de grandes divergências, certas criaturas abomináveis, como o infame Games for Windows Live apareceram. Estes pedaços de estupidez humana e capitalista tentou fundir um fraco mercado assolado pela pirataria sobre um único estandarte. Parece promissor, certo? Nem pela mais ínfima chance. Esta reunificação compreendia também uma anexação do mercado de PC ao da Xbox 360, visto isto ser uma jogada feita pela Microsoft, que tentou fundir os dois sistemas. Apesar de o Cross-plataforming ter sido um conceito inovador e francamente interessante para a altura, esta tentativa de fusão correu extremamente mal e a Microsoft acabou por desistir. A única coisa boa destes tempos foi a aceitação do comando da Xbox, que é honestamente um grande comando, como o comando "por norma" do PC. Entretanto, no meio de todo este redemoinho de confusões, a Valve e a sua plataforma digital Steam foi ganhando força. Cada vez eram mais os jogos a pedir autenticação Steamworks, e cada vez eram mais os jogadores a albergarem a plataforma como parte do seu dia-a-dia como jogadores de PC. Após ter, contra todas as expetativas, conquistado o mercado quase por completo, hoje, em 2015, é rei e rainha do mercado de PC. Tendo outras concorrentes, umas de princípios íntegros e honráveis como o Good Old Games, que serve quase de complemento ao Steam, aos outros patinhos feios, Origin e Uplay, frutos da ganância e capitalismo de editoras imorais, o Steam afirma-se ser o líder incontestável desta corrida injusta.
Portanto, vimos qual o estado das coisas neste momento. Tanto o PC (que vamos generalizar daqui para a frente como Steam por motivos que depois perceberão) como as consolas estão muito próximos no nível de serviços que oferecem. Ignorando por completo todas as outras regalias do PC, como o modding, e focando-nos apenas nas características dentro da plataforma Steam, vamos comparar com os sistemas das consolas: ambas possuem música, multiplayer, interface compatível com comandos e televisores, amigos, rede social, achievements, loja digital e muito mais. Não obstante, o Steam possui ainda broadcasts, screenshots, streaming para outros PC, interface K+M e tem multiplayer absolutamente gratuito, ao contrário de algumas consolas. Ainda mais regalias temos se considerássemos tudo o que existe fora do Steam. Mas a questão é: apesar de as diferenças entre o Steam e as consolas serem cada vez menores, alguma vez se irão anular? Para procurar a resposta a esta pergunta, olhemos para o futuro próximo: Steam Machines. As Steam Machines são computadores perfeitamente normais mas cujo sistema operativo é o SteamOS, um SO baseado em Linux, gratuito e cujo objetivo é proporcionar uma experiência de consola (o clássico comando, televisão, rabinho no sofá e acesso imediato) enquanto mantém todos os extras do Steam mais os inúmeros extras associados ao PC, como o modding, o hardware trocável e a possibilidade de instalar mais do que um SO, por exemplo. Caso se venha a afirmar, as Steam Machines (quer sejam aquelas vendidas especificamente como tal, com caixas à maneira e hardware especializado para jogos, quer sejam o vosso computador habitual com o SteamOS como SO secundário) vão tornar as diferenças PC/consolas mínimas. Chegaremos a um ponto em que o que dita estas diferenças não é mais do que um simples sistema operativo: no lado do PC, um sistema operativo aberto e livre. No lado das consolas, um sistema fechado, restrito e até pago. Agora a questão é: serão as consolas, ou seja, computadores pré-
-concebidos e com estes SO restritivos ainda uma realidade, ou chegaremos ao tal ponto de convergência em que tudo é igual e a única coisa que existe é vários SO diferentes, cada um com os seus jogos exclusivos?
Todas estas questões dão que pensar. Para tentar dar um cenário de resposta, temos de considerar o grau de sucesso do SteamOS/Steam Machines, e da relutância que os jogadores de consolas terão em deixar os seus sistemas. Costuma-se dizer que a ignorância é uma bênção, e esta máxima pode-se aplicar, embora apenas sobre uma perspetiva muito sui generis, à situação dos jogadores de consolas: ao jogarem num sistema mais restrito e ignóbil, estão ao mesmo tempo a ter a vida facilitada ao não terem de se preocuparem com questões ora de software, ora de hardware, têm (quase) sempre a garantia de que os jogos vão correr direitos e, apesar de não atingirem os horizontes ecléticos e sofisticados que o PC se autopropõe a atingir, conseguem cumprir de forma exímia a função mais básica de todas: a de proporcionar uma experiência de jogo básica (mas completa) e, sobretudo, divertida. E isso pode ser muito bem uma razão, do meu ponto de vista, extremamente válida para se manter no mundo "atrasado" das consolas. Portanto, qual a resposta final à questão a que este texto se comete a responder? Não há resposta definitiva. A não ser que me chame Michael Pachter não sou capaz de tirar uma conclusão definitiva sobre qual o futuro das consolas. O que é certo, e isto penso que é inegável, é a aproximação de PC/consolas mencionada acima. Agora se vão convergir totalmente, criando uma espécie de mercado de SO em vez de um mercado de consolas, ou se nunca vão se tocar, como uma curva de uma hipérbole nunca toca na assíntota, só o tempo dirá. Cabe aos jogadores decidir, e é bom que decidam de forma sábia, visto que de outra forma as aberrações desta indústria poderão ver uma oportunidade de atacar de forma devastadora. Mas pensemos positivo.
Por Tiago Lascasas, "Tiagozak"
Portanto, vimos qual o estado das coisas neste momento. Tanto o PC (que vamos generalizar daqui para a frente como Steam por motivos que depois perceberão) como as consolas estão muito próximos no nível de serviços que oferecem. Ignorando por completo todas as outras regalias do PC, como o modding, e focando-nos apenas nas características dentro da plataforma Steam, vamos comparar com os sistemas das consolas: ambas possuem música, multiplayer, interface compatível com comandos e televisores, amigos, rede social, achievements, loja digital e muito mais. Não obstante, o Steam possui ainda broadcasts, screenshots, streaming para outros PC, interface K+M e tem multiplayer absolutamente gratuito, ao contrário de algumas consolas. Ainda mais regalias temos se considerássemos tudo o que existe fora do Steam. Mas a questão é: apesar de as diferenças entre o Steam e as consolas serem cada vez menores, alguma vez se irão anular? Para procurar a resposta a esta pergunta, olhemos para o futuro próximo: Steam Machines. As Steam Machines são computadores perfeitamente normais mas cujo sistema operativo é o SteamOS, um SO baseado em Linux, gratuito e cujo objetivo é proporcionar uma experiência de consola (o clássico comando, televisão, rabinho no sofá e acesso imediato) enquanto mantém todos os extras do Steam mais os inúmeros extras associados ao PC, como o modding, o hardware trocável e a possibilidade de instalar mais do que um SO, por exemplo. Caso se venha a afirmar, as Steam Machines (quer sejam aquelas vendidas especificamente como tal, com caixas à maneira e hardware especializado para jogos, quer sejam o vosso computador habitual com o SteamOS como SO secundário) vão tornar as diferenças PC/consolas mínimas. Chegaremos a um ponto em que o que dita estas diferenças não é mais do que um simples sistema operativo: no lado do PC, um sistema operativo aberto e livre. No lado das consolas, um sistema fechado, restrito e até pago. Agora a questão é: serão as consolas, ou seja, computadores pré-
-concebidos e com estes SO restritivos ainda uma realidade, ou chegaremos ao tal ponto de convergência em que tudo é igual e a única coisa que existe é vários SO diferentes, cada um com os seus jogos exclusivos?
Todas estas questões dão que pensar. Para tentar dar um cenário de resposta, temos de considerar o grau de sucesso do SteamOS/Steam Machines, e da relutância que os jogadores de consolas terão em deixar os seus sistemas. Costuma-se dizer que a ignorância é uma bênção, e esta máxima pode-se aplicar, embora apenas sobre uma perspetiva muito sui generis, à situação dos jogadores de consolas: ao jogarem num sistema mais restrito e ignóbil, estão ao mesmo tempo a ter a vida facilitada ao não terem de se preocuparem com questões ora de software, ora de hardware, têm (quase) sempre a garantia de que os jogos vão correr direitos e, apesar de não atingirem os horizontes ecléticos e sofisticados que o PC se autopropõe a atingir, conseguem cumprir de forma exímia a função mais básica de todas: a de proporcionar uma experiência de jogo básica (mas completa) e, sobretudo, divertida. E isso pode ser muito bem uma razão, do meu ponto de vista, extremamente válida para se manter no mundo "atrasado" das consolas. Portanto, qual a resposta final à questão a que este texto se comete a responder? Não há resposta definitiva. A não ser que me chame Michael Pachter não sou capaz de tirar uma conclusão definitiva sobre qual o futuro das consolas. O que é certo, e isto penso que é inegável, é a aproximação de PC/consolas mencionada acima. Agora se vão convergir totalmente, criando uma espécie de mercado de SO em vez de um mercado de consolas, ou se nunca vão se tocar, como uma curva de uma hipérbole nunca toca na assíntota, só o tempo dirá. Cabe aos jogadores decidir, e é bom que decidam de forma sábia, visto que de outra forma as aberrações desta indústria poderão ver uma oportunidade de atacar de forma devastadora. Mas pensemos positivo.
Por Tiago Lascasas, "Tiagozak"