“Criatividade é o processo de te auto permitires cometer erros. Arte é o processo de saber qual deles aproveitar.”
Scott Adams A liberdade de escolha é uma das maiores riquezas de que o ser humano dispõe. Olhar em frente, analisar os diferentes caminhos à disposição e posteriormente avançar por aquele que mais interesse nos transmite é uma das melhores formas de expressar uma das maiores riquezas da nossa espécie. Mas esta tão linear liberdade será na sua essência uma realidade? Ou apenas uma ilusão criada para nos entorpecer os sentidos e os desejos? Será que somos realmente donos do nosso destino ou personagens secundárias, adaptativas às diferentes circunstâncias e sortes que a vida nos proporciona? Não são raras as vezes que de modo a atingirmos os nossos desejos infringimos os mais elementares conceitos éticos e legais. Mil e uma razões são usadas de forma a justificar o injustificável, para esconder o óbvio, os nossos atos trazem consequências que excedem em larga medida os nosso círculo pessoal. Neste contexto o tema pirataria é um assunto sempre em voga, especialmente numa época onde os meios digitais são o expoente máximo de atividade da vida interna das famílias.
Numa pequena análise pela rede facilmente se encontram opiniões que defendem as duas fações. Eis alguns exemplos… A violência nos videojogos é um tema que sempre me provocou grande fascínio, não tanto pelas fervorosas discussões que sempre se levantam, mas sim pela forma como diferentes interpretações podem ser associadas ao mesmo contexto.
Na balança dos prós e contras são vários os pesos a serem aplicados, por um lado temáticas como a liberdade criativa e o impacto da censura na escolha das pessoas, por outro os limites do mau gosto e a falta de supervisão familiar e social. Tudo temas de grande complexidade quer seja pelas implicações resultantes ou pela dificuldade de definição dos respetivos limites. Vivemos numa sociedade em constante crescimento e evolução. A tecnologia comanda todas as áreas da nossa vida, constringindo as nossas ações e alterando o nosso contexto pessoal, social ou profissional. Os laptops, tablets, smartphones, Iphones são presença em quase todas as casas. Há muito que deixaram de ser um bem supérfluo, neste momento são um bem essencial, um bem de uso contínuo e exaustivo. Mulheres, crianças, idosos, é completamente irrelevante a faixa etária ou o sexo, todos somos dependentes desta nova tecnologia, todos a usamos e todos usufruímos das suas funcionalidades.
Uma pergunta nasce no meio desta incessante evolução: o que é ser um gamer nesta nova sociedade? Não há resposta fácil ou verdadeiramente justa. Sou do tempo em que os gamers se dividiam em “casual”, “core”, “hardcore” e “pro”, um tempo em que jogar era considerado um ato infantil, destinado a uma juventude que destruía os padrões estabelecidos a nível de diversão e entretenimento. Fazíamos parte de um nicho de mercado pouco relevante e como tal era assim que éramos vistos, nerds perdidos no seu próprio universo pessoal. Crescemos num ambiente de descriminação parental pela incapacidade destes de perceberem as mudanças que se começavam a observar a níveis comportamentais, mas sobrevivemos, e, hoje em dia, o pequeno nicho de mercado tornou-se numa das maiores e mais desejadas forças de mercado. O crescimento informático ajudou significativamente neste salto e neste momento temos um possível gamer em todos nós, apenas se precisa de acesso e iniciação. As crianças são um público-alvo por excelência, a disponibilidade temporal e o desejo de diversão fazem delas o expoente máximo de qualquer indústria de entretenimento. Mas o mercado alargou de forma agressiva, as redes sociais ajudaram significativamente neste aspeto com o Facebook como cabeça de cartaz. A aposta desta rede social por jogos de experiência imediata e simplista ajudou a integrar pessoas que jamais sob outro pretexto experimentariam a sensação de jogar jogos eletrónicos. Começar é sempre o primeiro passo em todos os “vícios” e actualmente é difícil encontrar alguém que não “jogue”, nem que seja apenas uns minutos por dia. O facto de os telemóveis e outros meios de comunicação atuais serem autênticas máquinas preparadas para o entretenimento, facilitou largamente a adesão a esta nova forma de ser e estar. Não tenho uma resposta concreta a esta pergunta, ser gamer banalizou-se, não é mais motivo de orgulho ou de vergonha, é um ato pessoal ou social tão normal como sair com os amigos para "ir beber uns copos”. O romantismo morreu, para ser gamer basta simplesmente “ser”… Blindsnake (Sandro Afonso) |
AutorBlindsnake, jogador veterano de 35 anos. Tem como grandes referências no mundo dos videojogos MGS e The Last Of Us. Arquivo
Fevereiro 2017
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